20081111

o sexto

Pior que não ver, cheirar, saborear, tocar, ouvir é não ter a capacidade de não o sentir.
Cheiro o Natal em cada esquina da baixa, saboreio o meu café da tarde, tocando com a palma da mão nas cordas da guitarra enquanto ouço o seu som melodioso; vejo isto todos os dias e é bom de se ver.
O pior é não o poder sentir, será que é só meu? Realmente à imenso tempo que não falo sobre ele com ninguém, e esse mesmo ninguém não se importa nem mostra vontade em o ter, ou em o sentir, será que eles também passam o mesmo que eu? Ou será que é algo que vai contra a razão existencial do nosso ser?
Realmente vejo-os na rua a exibi-lo na forma física, em pares, no caso daquele que vai e vem mas as vezes entranhasse na nossa pele e acaba por não sair como aquelas tatuagens que vão com a gente para debaixo da terra; outros em grupo, no caso mais abrangente e não tão forte, mas mesmo assim belo e sincero. Ora porra! Eu não devo de ser normal! Bem, toda a gente me diz isso, cada vez faz mais sentido. Continuando...
A minha volta vejo-o escrito em todo o lado: mensagens, textos, palavrinhas, mil e uma maneiras e feitios de o transformar de nada em tudo, sinceramente começo mesmo a achar que o facto de eu estar a duvidar disto me torna mesmo anormal, espero que não seja verdade, pois estar a questionar-me sobre isto já se torna mau o suficiente.
Ou as pessoas são fracas demais e deixam-se levar por este sexto sentido, ou eu sou tão anormal que apenas possuo sentidos físicos e o melhor deles morreu, numa terrível noite de primavera.
Contento-me apenas por sentir o vento a passar por entre a minha mão e a contra a minha face, o paladar doce da maça vermelha, o olhar sobre o céu negro de Inverno, o cheiro a noite húmida e o belo som do silencio deste belo manto de sentidos...